terça-feira, 23 de outubro de 2018

ELA

Ela, teve seu início assim: Perdendo-se dentro dos dias da semana e de sua própria casa por algumas vezes. Achei meio estranho mas entendi que com noventa e quatro anos isso era absolutamente normal. Aconselhei ir riscando no calendário todo o final de um dia.

Alguns dias depois, no desespero de uma pessoa que há mais de trinta anos estava morando sozinha por opção, me liga: TIVE UMA NOITE DE TERROR, ME PERDI DURANTE A NOITE, NÃO SABIA O QUE FAZER.NÃO ACHAVA NEM O TELEFONE PRA LIGAR PRA VOCÊ.

Pensei... agora é a hora da mudança: VENHA COMIGO!

Uma tristeza se estampa no seu rosto por todo e sempre. Me coloco no seu lugar ...sinto naquele instante a sua dor por estar dependente.

O pior estava por acontecer. Só mais alguns dias, uma bomba cai em nossa família ao sabermos que uma parte do seu cérebro estava comprometido por uma metástase.

Sem um gemido...lamúrias... revoltas ...indignação ... ela sobrevive no momento, um estágio vegetativo querendo dar mais um e o último exemplo de vida o qual peço todos os dias que Ele lá em cima interceda por ela de acordo com a Sua vontade e que Ele ou ela me ajude a entender tudo isso. 

É ela o meu tema, minha mãe,  exemplo que devo levar pra vida.